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Quem é a vítima, afinal?

Uma das coisas mais chocantes que ouvi meu professor, Renato Bertate, dizer foi: “Para a vítima, não tem solução”. Fiquei muito impressionada com essa frase. Ele diz que tudo o que fizermos (especialmente nós, terapeutas) para as vítimas, elas vão jogar no lixo e a única solução é frustrá-las.

No início, tive algumas dúvidas em relação a afirmação, mas então comecei a observar os clientes que estão em terapia há um bom tempo e que ainda repetem as mesmas histórias a cada sessão. Comecei a perceber que, no geral, são pessoas que, depois de ouvirem alguma intervenção, dizem: “entendo, mas…”. Sempre tem um mas, uma justificativa. E, então, voltam para as reclamações usuais.

A vítima adora reclamar. É como se o mundo “jogasse contra” elas. Assim, tem sempre um culpado, alguém responsável pelo sofrimento delas. É um beco sem saída, sem solução.

Também começou a ficar evidente que a pessoa nesse papel tem muita raiva e é comum ser aquela que vai explodir em algum momento. Vi isso numa constelação, onde foi mostrada a dinâmica das vítimas. Num primeiro momento, a pessoa mostrava sofrimento ou certa tristeza. No momento seguinte, estava pronta para atacar ferozmente o outro. Foi muito surpreendente.

O perfil da vítima

A vítima aparenta uma fragilidade, mas, no fundo, controla todos à sua volta. Se você não fizer o que ela quer, ela deprime, ou tem uma explosão de raiva, ou não fala mais com você, ou faz chantagem emocional e ameaça “se despedaçar”. E, para evitar passar por isso, o mais comum é as pessoas cederem a ela. Com seu jeitinho “frágil”, ela manipula e controla e vai se tornando um algoz, pois começa a gerar sofrimento para quem está ao seu lado.

Numa família, esses papéis vão se revezando. Vítimas e algozes mudam constantemente de lado. Num momento, estão sofrendo ataques e no momento seguinte são os maiores agressores. Mas, como essa agressão é justificada pelo que receberam, então essa dinâmica nunca tem fim. Não se procura por uma alternativa.

A vítima não consegue perceber que ela tem saída, que pode tomar decisões e que a vida está em suas mãos. Ela pode escolher não atender a uma ligação indesejada; pode dizer não a um relacionamento desrespeitoso; pode dizer o que quer ou não quer; pode colocar limites; pode preservar as coisas que são importantes para ela.

Mas quem está nessa dinâmica acaba escolhendo não tomar decisões (lembrando que não decidir, em si, já é uma escolha). Tomar decisões implica em assumir as responsabilidades das escolhas; implica em correr riscos de “acertar ou errar”; em ser exposta a críticas e julgamentos alheios que, por sinal, são a marca registrada da vítima. Quando o outro toma uma decisão que não é aquela que a vítima quer, então a raiva aparece e as críticas e julgamentos a esse outro são avassaladoras e agora ela está pronta para brigar.

Penso que uma das razões dela não tomar decisões é que existe um medo de receber dos outros a mesma intensidade de julgamento com que julga e esse medo paralisa. Assim, não se dá conta do preço alto que paga e deixa sua vida na mão do outro, reafirmando seu papel de vítima e ficando sem alternativas. Uma outra razão é a fantasia de que deixará de ser amada, caso desagrade o outro e assim se deixa desagradar o tempo todo.

Outra dinâmica que tenho observado sobre a vítima é que ela tem uma personalidade narcísica. Parece que vida gira em torno dela. O que as pessoas fazem, fazem para ela. “Ela telefona sempre na hora da minha novela”. Não! Ela simplesmente telefona. E, se isso não estiver bom, há muitas opções possíveis: não atenda o telefone; ou atenda e peça para ligar mais tarde; ou desligue completamente o telefone para que ele nem toque; ou qualquer outra ideia que tiver.

Hoje, recebi um e-mail da academia em que me matriculei há dois meses (e estou adorando), dizendo que esta será fechada. Como aconteceu a mesma coisa com a academia anterior, eu pensei: “Não estou dando sorte”. Isso é típico de um pensamento vitimista. Não é uma questão de sorte ou azar. A vida acontece independente de qualquer pessoa. E, quando estamos envolvidos na vida, precisamos tomar decisões sobre esses acontecimentos. Agora é necessário procurar outro lugar. Simples assim. Mas ainda que a decisão do outro (de fechar a academia) tenha me afetado de alguma forma, isso não tem nada a ver comigo individualmente. Se eu cair em lamentos e reclamações, terei entrado nesse papel, se for proativa em como resolver isso, não.

A decisão de mudar

Quando a pessoa está tentando mudar e não está conseguindo é necessário se perguntar se existe algo que ela precisa enxergar em si mesma e não está conseguindo ou, talvez, se questionar se não entrou nesse lugar de vítima. Sem essa consciência é muito difícil ir em frente. Porém, mesmo com a consciência, é preciso muita determinação, pois a pessoa tem muitos ganhos secundários estando nesse papel.

Para sair desse lugar, é necessário fazer uma escolha e, sim, tomar uma decisão muito clara: “Não vou mais ser uma vítima! A partir de agora eu assumo total responsabilidade sobre o que acontecer comigo! Eu tenho participação em tudo aquilo que atraio para mim! Eu tenho opções e posso escolher o que é importante para minha vida!”

E, com tudo isso, convido então para a reflexão: Quem é a vítima, afinal?

 

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